Em novembro de 2012, o The New York Times publicou um artigo afirmando que aquele havia sido “O Ano dos MOOCs” [Assista a um vídeo do The New York Times sobre MOOCs ao final deste artigo]. Há quem discorde, considerando 2012 como apenas o rastilho de uma bomba que realmente estourou em 2013. Outros vão além e acham que a bomba ainda nem estourou e que o que vimos até agora é um estalinho perto do que acontecerá a partir de 2014. Seja como for, o certo é que hoje já há centenas de grandes universidades oferecendo milhares de MOOCs para milhões de alunos de todo o mundo. O barulho é alto o bastante para chamar a atenção de alguns gigantes. A Bill & Melinda Gates Foundation financia pesquisas sobre o assunto e, na última semana, noticiamos aqui no Rescola que o Google anunciou que está entrando no jogo (com força, como de costume), desenvolvendo em parceria com o edX uma plataforma que permitirá que qualquer um crie e ofereça seu MOOC.
Portanto, parece que está mais do que na hora de tirarmos as nossas dúvidas sobre o que é MOOC é quais podem ser as consequências dessa ferramenta para o futuro da Educação.
Definição
MOOC é a sigla em inglês para Massive Open Online Courses, ou seja, Cursos Online Abertos e Massivos. O termo, bastante auto-explicativo, foi cunhado em 2008 por Dave Cormier, da University of Prince Edward Island, e Bryan Alexander, do National Institute for Technology in Liberal Education [Assista a um vídeo de Dave Cormier sobre MOOCs ao final deste artigo]. Trata-se, portanto, de cursos online, totalmente gratuitos, que objetivam a participação em larga escala através da Internet. A ideia principal é procurar manter a mesma qualidade de um curso presencial de nível superior, mas usando a Internet para atingir um número tão grande de pessoas que o custo por aluno se torna irrisório.
Características
Há algumas grandes sacadas que caracterizam esse tipo de curso e que são a chave do seu sucesso. O primeiro diferencial dos MOOCs é que eles acontecem num período de tempo determinado. Eles são um “evento” e não um objeto. Ou seja, diferentemente de um simples site de vídeo-aulas, onde as aulas ficam disponíveis para serem assistidas a qualquer momento, nos MOOCs é preciso se engajar durante um determinado período. Sim, as aulas são gravadas e você pode assistí-las a qualquer horário (e inclusive, na maioria dos casos, permanecem acessíveis a qualquer um depois do encerramento do curso), mas há tarefas que você deve entregar a cada semana, nos prazos definidos, se quiser receber o certificado de conclusão.
Segundo Peter Norvig, Diretor de Pesquisas do Google, professor de Inteligência Artificial da Stanford University e autor de um dos primeiros MOOCs, “Em muitas aulas online os vídeos estão sempre disponíveis. As pessoas podem assistí-los quando quiserem. Mas se elas podem fazer isso a qualquer hora, significa que podem fazer isso amanhã, e se podem fazer isso amanhã… bem, talvez nunca resolvam fazer.”. [Assista o TED Talk de Peter Norvig ao final deste artigo]
Outro fator-chave são as técnicas de avaliação. Se a qualidade é um ponto inegociável, não seria aceitável limitar as avaliações a testes de múltipla-escolha, é preciso que os alunos sejam avaliados criticamente, em textos e trabalhos escritos. Mas como viabilizar a avaliação de trabalhos escritos por dezenas de milhares de alunos? A solução adotada pelos MOOCs é o peer-assessment, ou “avaliação pelos pares”. Cada vez que um aluno entrega um trabalho, deve avaliar os trabalhos de alguns colegas (normalmente três ou cinco, o professor é quem decide), selecionados aleatoriamente pelo sistema e que lhe são apresentados anonimamente. Caso não faça isso, recebe uma penalização na sua nota.
Como resposta às críticas de que pessoas que, a princípio, têm o mesmo nível de conhecimento podem ser incapazes de avaliar corretamente as outras, os provedores de MOOCs lembram que isso é prática comum na comunidade científica e em cursos de nível de mestrado e doutorado. Outro argumento interessante é o de que esse tipo de avaliação ainda proporciona um importante acréscimo didático, pois ao comparar o seu próprio trabalho com o dos colegas, o aluno obtém uma noção muito mais precisa da qualidade do que fez do que teria com uma simples nota dada pelo professor.
Além disso, pesquisas indicam que os colegas são, sim, capazes de avaliar com precisão os trabalhos dos outros. “Estudos demonstram que a avaliação por pares é uma estratégia surpreendentemente eficiente para obter notas corretas.” Afirma Daphne Koller, cofundadora do Coursera, a maior plataforma de MOOCs. “Eles mostram que as notas dadas pelos alunos ficam muito bem correlacionadas com as notas dadas pelos professores.” [Assista o TED Talk de Daphne Koller ao final deste artigo]
Por fim, o terceiro componente dos MOOCs que destacamos é a interação entre os alunos. Fóruns são uma ferramenta onipresente nesses cursos e sua taxa de utilização pelos alunos é muito alta. E eles ainda costumam ser expandidos por grupos auto-organizados no Facebook, Twitter, Google+, tele-encontros no Google Hangout ou até mesmo encontros presenciais. Assim, a troca de informações é constante e, inevitavelmente, você sairá de um MOOC com amigos das mais diversas partes do globo, com interesses semelhantes aos seus.
Principais provedores de MOOCs
Três grandes provedores se destacam no universo dos MOOCs:
Coursera – Lançado em abril de 2012, por Daphne Koller e Andrew Ng, professores de ciências da computação da Stanford University, o Coursera atingiu, em setembro de 2013, a marca de 4,7 milhões de alunos. O site oferece cursos nas áreas de engenharia, humanas, medicina, biologia, ciências sociais, matemática, administração, ciências da computação, entre outras. Os cursos são oferecidos por 83 universidades de ponta, como Stanford University, Princeton, the University of Michigan e University of Pennsylvania.
Udacity – Fundado em fevereiro de 2012, também em Stanford, por Sebastian Thrun, David Stavens, and Mike Sokolsky, o Udacity tem um notável foco em cursos relacionados às ciências da computação, apesar de também oferecer cursos de matemática, administração e design. O site reúne mais de 400 mil alunos que têm acesso a cursos da University of Virginia, San Jose State University, Georgia Institute of Technology e outras. Recentemente, o Udacity, em parceria com o Georgia Institute of Technology e a AT&T, anunciou o primeiro Mestrado oficialmente reconhecido a ser oferecido exclusivamente através de uma plataforma de MOOCs.
edX – O edX foi fundado em maio de 2012 pelo Massachusetts Institute of Technology e pela Harvard University. Atualmente, a plataforma tem cerca de 1,2 milhão de usuários que fazem cursos de 39 universidades parceiras de todo o mundo, entre elas a Boston University, a Technical University Munich, a University of Hong Kong e a École Polytechnique Fédérale de Lausanne. No último dia 10 de setembro, o Google anunciou uma parceria com o edX para o desenvolvimento de uma plataforma que possibilitará que qualquer pessoa ofereça cursos online nos moldes dos MOOCs.
Outros provedores de MOOCs:
- Canvas Network
- Udemy
- Miríada X
- Open2Study
- Veduca (Brasil)
MOOCs são adequados para mim?
Um dos principais requisitos para fazer um MOOC ainda é o domínio do inglês. Há alguns cursos legendados ou dublados em português, mas, na maioria das vezes, você precisará entregar trabalhos escritos em inglês. Apesar de haver sempre um clima de camaradagem entre os colegas, e eles costumarem relevar pequenos erros cometidos por alunos que não são falantes nativos de inglês, é preciso, ao menos, conseguir comunicar as suas ideias nesse idioma.
Além disso, os MOOCs exigem um certo grau de maturidade e disciplina. Não há um professor “pegando no pé” em relação a prazos. Cabe a você conduzir seu aprendizado no ritmo certo, buscar ativamente esclarecer suas dúvidas com os colegas e se aprofundar nas leituras sugeridas. Eles também não são a melhor opção para quem está apenas atrás de um certificado. Apesar de todos fornecerem certificados, na maioria dos casos eles não têm validade acadêmica (apesar de algumas universidades americanas já os aceitarem como créditos) e não há nada que obrigue um empregador de reconhecê-lo.
Mas, se o seu objetivo é adquirir conhecimento e interagir com pessoas de todo o mundo e é autônomo, disciplinado, focado e social, vá em frente! Com certeza há um MOOC sobre um assunto do seu interesse esperando por você.
Vídeos
Welcome to The Brave New World of MOOCs – The New York Times – Em inglês.
What is a MOOC? – Dave Cormier – Em inglês.
TED Talk: A sala de aula de 100 mil alunos – Peter Norvig – Legendado em português. [ted id=1487 lang=pt-br]
TED Talk: O que estamos aprendendo com a educação online – Daphne Koller – Legendado em português. [ted id=1531 lang=pt-br]
A palestra da Daphne Koller esta incompleta, só tem 20:37 min.
Eu tenho bastante interesse em fazer cursos no Coursera, mas o pagamento é em dólar e ele está a R$4, inviável. O Udacity, quando visitei, tinha uma enxurrada de cursos irrelevantes, não quis fazer nada.
Acho a plataforma do Coursera sensacional para novos aprendizados. O conteúdo na maioria das vezes é relevante e ministrado por uma universidade de excelência. Além do mais, ter contato com informações obtidas de universidades como Stanford, Harvard e Yale agrega muito na hora de aplicar à nossa realidade. Os cursos ligados à área de programação não me deixam mentir. Eu recomendo imensamente!