Quando o professor executa um longo monólogo, expondo seus conhecimentos aos alunos, busca algo que muitas produções cinematográficas hollywoodianas não conseguem: manter o interesse dedicado das pessoas por um longo período de tempo. Arrisco dizer que, hoje, o maior desafio do docente é, justamente, conquistar a atenção da turma. Entretanto, sem o orçamento e recursos de um blockbuster norte-americano.

Com essa pergunta na cabeça e uma turma acadêmica desatenta e relapsa, abracei um desafio: transformar as tradicionais aulas expositivas em uma atividade compartilhada e interessante.

Assim, no dia 5 de maio de 2014, durante a disciplina de Design Gráfico Aplicado à Publicidade, aconteceu o “Stand Up! Battle“. O exercício visava, primeiramente, avaliar os conhecimentos do alunos do curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Ceará sobre o tema Teorias das Cores. Utilizando a metáfora de um ringue de Artes Marciais Mistas (MMA), o exercício explorou os conceitos dos teóricos Paul Klee, Josef Albers, Johannes Itten e Wassily Kandinsky, além da marcante influência da obra Doutrina das Cores de Goethe, a partir da referência bibliográfica “A Cor no Processo Criativo: Um Estudo Sobre a Bauhaus e a Teoria de Goethe”, de Lilian Ried Miller Barros.

Só que os objetivos da atividade eram muito maiores e envolviam diversos outros aspectos relacionados ao aprendizado de um profissional de Comunicação. O Stand Up Battle! saiu da sala de aula e ocupou um auditório. Lá, os conceitos de criação colaborativa, “learn by doing”, pensamento criativo, gamificação e design de apresentações aplicadas à educação foram avaliados.

A inspiração maior foi o TED (acrônimo para Technology, Entertainment, Design): evento criado em 1996, por Chris Anderson. Durante as apresenções do TED, os palestrantes tem até 18 minutos para expor suas ideias. Logo, o domínio do tema, a concisão e a simplicidade são elementos-chave para o sucesso. Nas palavras de John Maeda, professor no MIT Media Lab e autor do livro “As Leis da Simplicidade”, “consiste em extrair o óbvio e acrescentar o significativo”.

Para executar com sucesso o desafio, os alunos receberam, antecipadamente, uma série de informações sobre Design de Apresentações, incluindo os conselhos enviados pelo TED a seus palestrantes.

Além disso, o Stand Up! Battle buscava minimizar um incômodo hiato entre as avaliações acadêmicas e mercadológicas. Na Universidade, comumente, as pontuações são superlativas. Já, no dia-a-dia, somos avaliados a partir de comparações. Por isso, cada combate consistia numa série de duas apresentações com um mesmo tema. Assim, buscou-se um estimulo positivo ao confronto de pensamentos visando o aprendizado coletivo e compartilhado.

A pontuação completa era realizada de acordo com critérios antecipadamente apresentados que envolviam assiduidade, pesquisa bibliográfica e retórica criativa. O professor não fazia a avaliação sozinho. Como em uma luta de MMA, havia jurados. Os critérios relacionados à fundamentação teórica ficaram a cargo do professor. E aqueles itens vinculados a desenvoltura da equipe no palco, foram avaliados pelos convidados com notórios saberes relacionados aos temas. O evento contou com professores e profissionais do mercado da propaganda, design gráfico e design de apresentações.

Um dos pontos verificados no exercício relacionava claramente a qualidade de uma apresentação comparada a outra. Assim, quando as equipes tinham desempenho similar, os jurados decidiam que houvera um empate técnico no combate. Ou seja, ambos grupos apresentaram preparação e desempenho semelhantes. Já quando um time se comportava relativamente melhor que o outro, ocorria a vitória por ponto, o que – para a atividade – significava que uma equipe ganhava um ponto completo no critério de avaliação, e a outra apenas meio ponto. Finalmente, se uma equipe foi notavelmente melhor que a outra, isso equivalia a um nocaute. Daí, um grupo saia do palco com um ponto, enquanto o outro ficava com zero no critério, literalmente na lona.

Os comentários do júri, ao final de cada dupla de apresentações, somados à reação da plateia validaram de forma evidente a ideia que “pensar fora da caixa”, ou seja, buscar a inovação e a subversão de paradigmas, é uma valiosa estratégia do discurso publicitário. E isto deve ser promovido constantemente, de forma estratégica, na formação superior. Ainda mais se estamos falando de profissionais de Comunicação Social e das Indústrias Criativas. Mas também podemos pensar isto nas escolas, é claro.

Também ficou evidente que a criatividade deve ser aplicada a partir de objetivos claros. Devemos conhecer bem quais desafios responder. E jamais esquecer quais problemas estamos combatendo. De nada adianta um mise en scène sem a fundamentação que sustente os argumentos. Finalmente, o que o Stand Up! Battle buscou promover consistia em uma nova forma de associar aprendizado e entretenimento.


Chico Neto

Professor do curso de Publicidade na Universidade Federal do Ceará, apaixonado por comunicação visual e metodologia criativa.

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