Clarice querida,

O mundo está mudando rápido. Bem mais rápido que as nossas escolas. Há tantas delas que ainda não perceberam que este mundo internético em que hoje vivemos é radicalmente diferente do mundo desconectado de algumas poucas décadas atrás e que nossa Educação agora pode e precisa ser muito melhor.

Grandes ideias não faltam: escolas na nuvem na Índia, aulas sem turmas nem professores em Portugal, salas-de-aula invertidas nos Estados Unidos, brinquedos que ensinam crianças a programar computadores na Inglaterra, milhares de pessoas do mundo todo fazendo juntas cursos de nível superior!

Mas é preciso querer ver a necessidade de mudar, e isso demora. Por mais que eu esteja otimista, não acho que os anos que te restam na escola sejam tempo suficiente para essa onda de renovação se espalhar pelo Brasil e chegar à tua sala-de-aula.

Vai ser por pouco… Você é parte da última geração de alunos da escola do passado. Ou seja, alunos de um modelo de educação igualzinho ao que eu tive, e que também foi o mesmo dos teus avós, teus bisavós, teus trisavós…

Mas se não dá para evitar que as manhãs da tua infância sejam gastas em aulas chatas e desestimulantes, você pode pelo menos ficar alerta aos defeitos desse modelo. Assim, enquanto você aproveita o que a escola pode te oferecer de bom, vai conseguir impedir que ela te ensine algumas coisas que a mim custaram muitos anos para desaprender.

Não deixe que a escola te ensine que conhecimentos podem ser compartimentados, separados em caixinhas, isolados uns dos outros.

Na escola do passado, a matemática acaba quando começa a física e a geografia acaba quando começa a história. No mundo, há biologia no esporte, matemática na música, história na literatura, gramática na programação de computadores… Por isso, depois de ver algo de perto, dê sempre um passo para trás, perceba as relações, enxergue o todo.

Não deixe que a escola te ensine que alguns conhecimentos são mais importantes que outros.

Na escola do passado, para cada aula de artes há duas de geografia e para cada uma de geografia há duas de matemática. Música, artes plásticas, esportes, religião, filosofia são tratados como matérias de “segundo time”. Quantos grandes artistas e esportistas foram vistos como maus alunos e forçados a abandonar seus talentos porque o conhecimento que lhes interessava não era o mesmo que interessava à escola! Persiga teus interesses mesmo que eles não interessem a mais ninguém.

Não deixe que a escola te ensine que há um momento específico para aprender cada coisa.

Na escola do passado, quem não consegue acompanhar a turma é tido como um fracassado e quem quer avançar mais rápido é freado, impedido. Ela exige que todos aprendam o mesmo ao mesmo tempo. Mas as pessoas não são todas iguais. Você pode ter mais facilidade que os colegas em um determinado assunto e menos em outro. Não deixe que te empurrem nem que te segurem. Respeite teu próprio ritmo de aprendizado.

Não deixe que a escola te ensine a decorar.

Informação x ConhecimentoAo contrário, esqueça tudo que puder. O homem dominou o planeta porque foi capaz de fabricar ferramentas que estenderam os limites das nossas mãos e pés. Agora, fomos ainda mais além e fabricamos ferramentas que estendem os limites do nosso cérebro. Não precisamos mais desperdiça-lo usando-o como um depósito de nomes, datas e fórmulas; hoje podemos aproveitar todo o potencial dele para analisar, criticar e refletir o mundo de informações que podemos acessar com um clique. A Internet é o teu HD, o cérebro é o teu processador.

Não deixe que a escola te ensine a te contentar com pouco.

Na escola do passado, as consequências de tirar nota 10 ou nota 7 são as mesmas. O aluno excelente passa de ano da mesma forma que o mediano, com, no máximo, um elogio da professora. Assim, aos poucos os alunos vão ficando satisfeitos em “passar por média”. Nunca fique contente com a média. Dê teu melhor sempre, em tudo o que fizer (inclusive nesses poucos anos que ainda te restam na escola do passado). No mundo, ao contrário da escola, a excelência faz muita diferença.

Não deixe que a escola te ensine a acreditar que ela é suficiente.

A escola do passado lamentavelmente abdicou da missão de preparar os alunos para o futuro e se limita a tentar prepará-los para o vestibular ou o ENEM. Mas a tua vida produtiva começa exatamente depois desse ponto e para ser bem sucedida nela você precisará de muito mais do que ciências, matemática, português, história e geografia. O futuro vai exigir que você tenha uma boa noção dos teus direitos e deveres para cumprir teu papel de cidadã, conheça um pouco de economia para saber gerenciar teu dinheiro, aprenda sobre empreendedorismo para fazer tuas ideias virarem realidade, tenha consciência global para compreender teu lugar no mundo, domine a Internet enquanto ferramenta de comunicação e muito mais. Há muitos conhecimentos que não estão na escola. Procure-os onde estiverem.

John LennonNão deixe que a escola te ensine que provas são capazes de medir a tua capacidade e inteligência.

A história está repleta de gênios que foram tidos como maus alunos. Eles eram considerados incapazes nas suas escolas porque estavam à frente delas e, portanto, não podiam ser medidos pelos seus testes. As provas da escola do passado servem para provar quem está mais adequado ao mundo do passado.

Não deixe que a escola te ensine que você não tem nada a ensinar.

Na escola do passado os alunos são separados em séries de acordo com suas faixas etárias e isso praticamente impede a interação entre idades diferentes. Colegas um pouco mais velhos têm muito a te ensinar e, o que é ainda mais importante, os mais novos têm muito a aprender contigo. E ensinar é a forma mais eficiente de aprender. Quando um professor detém o monopólio do ensino, ele te rouba inúmeras oportunidades de aprender ensinando e ensinar aprendendo.

Caminho do sucessoNão deixe que a escola te ensine que errar é ruim.

Provas fazem isso o tempo todo, sem que os alunos percebam. Do jeito que são feitas, elas servem apenas para apontar e punir nossos erros e desperdiçam a oportunidade de nos ajudar a aprender com eles. O resultado é que aos poucos vamos nos acostumando a não arriscar e a evitar erros a todo custo. Não há nada pior para o aprendizado do que o medo de errar. Erre! Erre de novo! Erre à vontade. Erre quantas vezes forem necessárias até acertar.

Não deixe que a escola te ensine a ser apenas consumidora de ideias.

A escola do passado se limita a ruminar as ideias dos outros. Diariamente, aula após aula, os alunos mastigam, engolem e digerem um enorme cardápio de informações. Não há nenhum espaço para que eles gerem conhecimento, produzam pensamentos, criem ideias, somem. Os alunos são tratados como se fossem incapazes disso e logo se convencem dessa incapacidade. O mundo do futuro é o mundo da troca. Nele, os bem sucedidos não serão os que forem capazes de acumular mais ideias, mas os que forem capazes de distribuir mais. Escreva, desenhe, cante, dance, filme, blogue, fotografe, pinte e borde. Crie, produza, pense, gere, compartilhe.

E o mais importante de tudo, minha filha: não deixe que a escola te ensine que aprender é a mesma coisa que ser ensinado.

Toda criança nasce uma esponjinha de conhecimento ávida para absorver os comos e os porquês de tudo que vê. Essa curiosidade sem fim, essa fome de aprender costuma durar até o exato momento em que ela passa pela porta da sala de aula da primeira série da escola do passado. É nesse momento que as crianças são convencidas que aprender não é experimentar, sentir e sujar as mãos de terra ou tinta, como faziam até agora, mas sim sentar silenciosamente em cadeiras alinhadas e ser ensinado por um professor que é o dono de todo o saber e que decide sozinho a hora de começar e de parar de estudar cada assunto. O aprendizado não vem mais da interação da própria criança com o objeto que ela está conhecendo. Agora, ele é “transferido”. A criança não faz mais perguntas, ouve respostas. A busca do conhecimento não começa mais nas interrogações dos alunos, mas nas afirmações do professor; o estudo não mais se inicia na curiosidade, mas na autoridade. A criança não está mais no comando do seu aprendizado, ela não é mais um sujeito ativo no ato de aprender, é um sujeito passivo do ato de ensinar do professor. Em resumo, a criança não mais aprende, é ensinada. Não abra mão da direção da tua vida. Viver é aprender e você tem autonomia (ou seja, a liberdade e a responsabilidade) para decidir o que aprender e, portanto, como viver. Não a ceda a ninguém.

 

Se você conseguir impedir a escola de te ensinar essas coisas, vai acabar descobrindo que vida escolar é diferente de vida de aprendizado. E então, terá a vida inteira para desfrutar dessa incrível Era do Conhecimento que está apenas começando.

Te amo.

Teu pai


Renato Carvalho

Designer, Mestre em Design de Tecnologias Educacionais pela Universidade de Toronto. Trabalha por uma Educação focada no estímulo à criatividade, colaboração, autonomia, iniciativa e pensamento crítico.

291 thoughts on “Carta à minha filha: Não deixe que a escola te ensine

    • Parabéns pela iniciativa, mas não podemos nos esquecer que estamos falando de educação em um país subdesenvolvido, que quer formar cidadãos sem criticidade. Educação não é a prioridade de nossos governantes e os professores não são adequadamente preparados para a interdisciplinaridade e a multipluralidade, sem deixar de mencionar a falta de incentivo financeiro e a desvalorização da profissão. Infelizmente, quando se fala que a educação do Brasil vai mal, o primeiro a receber a culpa é o educador. Sendo franca, mas respeitosa, senti isso em suas palavras. Sua opinião seria mais bem formada ao observar de perto a realidade das escolas brasileiras.

      • Olá, Myrna. Agradeço pelo comentário e pelo tom respeitoso da sua crítica, mas lamento que essa tenha sido a sua leitura, pois ela difere bastante das minhas intenções.

        Em primeiro lugar, sim, estamos falando de um país subdesenvolvido, mas não exclusivamente dele. Todos os pontos que citei no texto estão presentes no mundo todo. Há países que já estão mais avançados do que nós no inevitável processo de repensar suas escolas do passado, mas mesmo neles elas ainda são a regra geral.

        Em segundo lugar, em momento nenhum o texto fala de “culpas” e “culpados”. Minha intenção se limitou a alertar minha filha sobre os problemas que ela encontrará e aconselha-la sobre como lidar com eles e em momento nenhum pretendi apontar culpados. Mas, se eu tivesse pretendido fazer isso, certamente não apontaria os professores entre eles. Sim, há “culpados” pela falta de investimentos na educação, por escolas públicas em péssimas condições de infraestrutura, por desvios na merenda escolar, etc, e não são os professores. Mas não é disso que o texto fala. Ele fala de um modelo educacional que existe mesmo nas mais bem aparelhadas escolas particulares. E esse modelo não tem “culpados”. Ele é o resultado natural de uma construção de séculos e foi bem sucedido para atender às necessidades da sua época. A questão é que essa época passou e agora precisamos de um novo modelo, adequado a um mundo onde a informação é onipresente e o conhecimento, a criatividade e a diversidade são os bens mais valiosos.

        • Realmente gostei muito do seu texto, especialmente gostaria de dizer e reforçar que inclusive em escolas particulares de ponta isto tem acontecido. É uma triste realidade e a resolução apesar de demorada e difícil e complexa deveria vir a partir da mudança de cada um envolvido, principalmente o governo e os professores sim… Vejo constantes cortes de criatividade e empreendedorismo porque os professores não estão bem preparados.

    • Não concordo com a escola que temos. Há anos venho trabalhando para mudar essa realidade: já deixei meu filho faltar à aula para terminar um jogo, sabendo que os esquemas de conhecimento construídos com o jogo são mais produtivos do que o que a escola pode construir. Senti-me revoltada quando meu filho levou uma advertência da professora de física por acessar o celular, no dia em que ela estava, apenas, corrigindo cadernos. Sim! Ainda temos professores que perdem tempo corrigindo cadernos.
      Um dia desta semana meu filho não quis ir à aula, pois o professor de mecânica de uma conceituada escola técnica no Brasil, em vias de se aposentar, usa o tempo de aula escrevendo conceitos na lousa. Conceitos esses facilmente pesquisados na internet.
      Em relação ao artigo, olhando a realidade do Brasil, pensando a maior parcela da população do País questiono:
      O que fazer com escolas que nem sequer tem energia elétrica?
      O que fazer com uma geração de alunos das camadas mais pobres da população, cujos pais, quando não marginais, são extremamente humildes e não sabem orientar seus filhos, e alguns casos ainda piores: não passam a educação básica?
      O que fazer quando um aluno chega à sala com a face roxa de um soco que levou do padrasto bêbado, o pior, isto aconteceu quando o menino estava dormindo. Para quem não está na escola fica muito fácil dizer que este padrasto deve ser denunciado, mas para quem conhece o chão da escola, sabe que às vezes a situação para está criança pode ficar pior com a denúncia. Se for tirada da família, o lugar para onde ela será encaminhada é melhor? Doce ilusão.
      O que fazer com crianças (meninos e meninas) que não conseguem aprender, ao se pesquisar um pouco, você fica sabendo que foram vitimas de abuso sexual, nestes casos específicos do próprio pai?
      O que fazer quando se sabe que os pais só querem a criança na escola por conta da merenda (às vezes única refeição do dia), do uniforme, vale leite, bolsa escola, para não ficar em casa perturbando a mãe?
      O que fazer?
      São questionamentos de uma professora que embora tire quinze minutos para tomar um café e usar o banheiro, conhece cada aluno, e no meu caso são muitos. Não sou uma apenas uma TRANSMISSORA DE CONTEÚDOS, pois sei que a construção do conhecimento se dá quando existe a interação entre sujeito e objeto de conhecimento mediado por um profissional que sabe como descobrir os saberes dos alunos, os conteúdos que necessitam serem aprendidos e os meios para que a aprendizagem significativa aconteça, mesmo ser ter em mãos os recursos tecnológicos, embora tenha Especialização em Tecnologia em Educação concluída na PUC.
      Temos sim, que construir uma nova escola, com tudo o que tem no artigo, e não no futuro, mas agora! E pensando, também, naqueles que não tem tecnologia em casa.

      Luzia Marques

  1. Renato, eu adorei teu texto. Ele realmente fala por muitos de nós… mas sabe que uma coisa me incomodou? Quando vc fala em notas, de aluno excelente. Na minha opinião tudo que “mede”, “classifica”, “compara” em determinada fase é muito difícil para as crianças. Em certos casos o aluno que tira o tal 7 tem muita dificuldade e precisa se empenhar muito mais que outro que tira sempre 8, 9 e mal “pega no livro”. Nesse ponto creio que deve haver simplesmente a ideia de dar o máximo de si. Só isso. De resto… nota 10 pra vc! Abç

    • Olá, Gláucia. Obrigado pelo seu comentário. Compreendo seu crítica. Eu também não sou muito fã dos atuais métodos de avaliação. Mas o objetivo do texto era alertar a minha filha sobre as deficiências do modelo, para que elas a prejudiquem menos. Queiramos ou não, as notas são o critério de avaliação das escolas. E teoricamente, segundo essa lógica, um aluno que tira 10 assimilou todo o conteúdo, enquanto um aluno que tira 7 assimilou 70% do conteúdo. O problema é que ambos seguem em frente da mesma forma, como se esses 30% (teoricamente) não assimilados não importassem! Como se fosse possível dominar o próximo conceito, sem ter compreendido completamente o que lhe precede… Como se eles não estivessem interconectados… Assim, a mensagem que os alunos recebem é que não importa dar o máximo de si ate dominar todo o assunto, basta fazer o esforço “suficiente”.

  2. Renato,

    Gostei muito do seu texto também. O processo educacional que você sonha com certeza é o de muitos de nós professores. O que queremos de verdade é que a metodologia que utilizamos em nossas suas aulas seja capaz de provocar no estudante curiosidade, criatividade, vontade de aprender, de questionar, de se envolver, de sair da zona de acomodação e passividade dentro da sala de aula.

  3. Show! Moro no interior por opção, e as pessoas perguntam…e a escola, e o ensino…Pois, eu digo que pelo fato de eu poder acompanhar o crescimento do conhecimento deles, estar mais perto e favorecer maior contato com a natureza, possibilita que eu perceba que a construção da educação e do conhecimento é algo além das paredes da escola…transcende..o contato com a arte é necessário ! Não troco a escola do interior e o modo de vida, pela melhor escola da Capital…Parabéns pelo texto! Forte Abraço,

  4. Nao tive coragem suficiente para tirar minha filha da escola depois do primario, acho que ate ali estava tudo bem, eu tinha conviccao suficiente para acreditar que o dinheiro e o tempo gastos na escola poderiam ser muito melhor aproveitados e ensinaria a ela coisas muito mais uteis e interessantes, sempre me arrependo do que nao fiz. Pense melhor, ainda da tempo de usar suas conviccoes para fazer o que eu nao fiz.

    • Olá, Cristina. Obrigado pelo comentário. Gostaria apenas de observar que, apesar de ter todas essas críticas à escola, e achar que o homeschooling é uma ótima opção, acredito que ele precisa ser muitíssimo bem planejado e refletido antes de ser implementado. Além disso, a legislação no Brasil ainda é bastante confusa em relação a isso e é preciso buscar um bom amparo jurídico para evitar ações judiciais.

    • Acredito que todos temos responsabilidades, como educadores em criar ambientes de entusiasmo, de liberdade de expressão e criação, de determinação e de respeito as diferenças e principalmente respeito ao ser humano.Mas a responsabilidade maior é dos pais, em ensinar valores que com muito afeto e respeito aos nossos filhos é que estaremos ensinando o que as escolas não podem oferecer, conhecimento para vida.

  5. Oi Renato, obrigada por dividir comigo essa carta. Com certeza é uma carta que meus pais me escreveriam. E que eu leria para minha filha. (Saudades das cartas…) – Well, tb sou interessada em estimular a criatividade através da educação. Te convido a me seguir no facebook: http://www.facebook.com/pitacoecia – por lá lançarei meu ebook com jogos criativos para pais e filhos. Espero que goste!

  6. O texto é muito bom para muitas reflexões. Mas me preocupa esta posição de julgar a escola sem analisar todo um contexto. Discordo de algumas colocações. Estou na educação há muitos anos acompanhando esse movimento. No meu ponto de vista, hoje temos cada vez menos as famílias compartilhando a educação de seus filhos junto com a escola. Não existe portanto, escola e nem metodologias que vão resolver o problema da educação se não mudarmos as relações da família com a escola.

    • Olá, Margarida. Obrigado pelo comentário. Você tem toda a razão. Este texto, particularmente, está focado no papel da escola na educação, mas isso não significa uma desconsideração da importância do papel dos demais envolvidos nesse processo. Isso fica explícito na missão do Rescola, que é “Ser um espaço aberto para ideias e iniciativas dedicadas a rever, repensar, refazer e revolucionar não apenas as escolas, mas toda a Educação” (http://rescola.com.br/sobre-o-rescola). Por isso, já tratamos da importância dos demais agentes em outros posts e certamente voltaremos a tratar no futuro.

  7. Me preocupa tantos “não deixe” como se sua filha fosse se tornar uma despóta esclarecida. Educar, como bem disse a Margarida antes de mim, é uma comunhão, é um pacto de sonhar juntos e de ver sabor no saber. Não é uma meta, nem o um objetivo, é um processo em “streaming”.

    Me preocupa também que, no meio de uma trajetória tão libertária que você propõe, haja esse escorregaõ meritocrático e neoliberal:

    “Não deixe que a escola te ensine a te contentar com pouco. Na escola do passado, as consequências de tirar nota 10 ou nota 7 são as mesmas. O aluno excelente passa de ano da mesma forma que o mediano, com, no máximo, um elogio da professora. Assim, aos poucos os alunos vão ficando satisfeitos em “passar por média”. Nunca fique contente com a média. Dê teu melhor sempre, em tudo o que fizer (inclusive nesses poucos anos que ainda te restam na escola do passado). No mundo, ao contrário da escola, a excelência faz muita diferença.”

    Vários valores estranhos e discricionários: o “number one”, a carreira verticalizada, o rankeamento de capacidades e competências.

    Nada mais anacrônico, anlógico e passadista

    No mais, muitos insights ótimos mas muito recalque de (talvez) experiências pessoais escolares mal-sucedidas

    Eu reveria o texto e faria uma versão 4G com banda mais larga

    Abraços

    • Olá, Luiz Cláudio. Você deve ter reparado que dois parágrafos após o trecho a que você se refere eu aconselhei a minha filha a não acreditar que provas são capazes de medir a inteligência dela, e logo em seguida o texto fala de colaboração e compartilhamento de conhecimento. Felizmente, ela foi capaz de compreender bem esse aparente paradoxo. Aquele primeiro trecho não é uma defesa da meritocracia e muito menos da competição entre alunos. O que ele fala é que, concordemos ou não, as notas serão o método que a escola usará para avaliar quem ela (a escola) considera excelente e quem ela considera mediano. O problema que eu quis abordar nesse ponto específico é que a mensagem que isso passa aos alunos é que é desnecessário dar o máximo de si, dominar todo o conteúdo e tirar a nota máxima (ou seja, ser excelente no ponto de vista da escola), pois as consequências para o aluno que fez apenas o mínimo necessário para obter a média são as mesmas. Eu acredito que dar o melhor de si, em qualquer situação, é importantíssimo e não tem necessariamente nada a ver com competição.

      • A busca pela excelência, se pode ser vista como competição, espero que seja vista mais como uma competição consigo mesmo: a busca pela própria superação, pelo “entender melhor as coisas hoje, do que eu entendia ontem”. É crescer e amadurecer cada vez mais.
        A escola e os tantos “por que não tirou DEZ” do meu pai, ao mostrar uma nota 8,0, 9,0, me fez criar olhos perfeccionistas com relação ao conhecimento… Não largo o osso enquanto não entender o que eu quero entender, o que preciso entender… Às vezes pode ser frustrante e dolorido, mas acho que a busca pela excelência é um valor que vale a pena!

  8. Achei bem legal teu texto, Renato, mas ele tem alguns exageros. Por exemplo: “A Internet é o teu HD, o cérebro é o teu processador.” Além disso, colocar Enem e vestibular no mesmo patamar me parece um equívoco. Em certo sentido, o Enem contribui justamente pra isso tudo que está defendido no texto. Outra: você idealiza sua filha, como todo pai deve fazer, como eu provavelmente farei com a minha. No entanto, tanto a tua filha quanto a minha vão se tornar adolescentes. E isso traz consequências sobre as quais nós teremos pouco controle. Os amigos vão influenciar a encarar a escola de uma forma diferente da que você acredita ser a melhor. Em outras palavras, não basta mudar a escola, infelizmente. Temos que mudar a mentalidade dos alunos e de suas famílias. Sou professor e trabalho em escolas que tentam várias mudanças, mas alunos, suas famílias e mesmo alguns professores são resistentes a elas. Enfim.

  9. prezado Renato. teu texto me fala muito. eu, professor recém-ingresso no ensino superior e com uma razoável experiência na educação básica. tenho trabalhado nas turmas de estágio o conceito de “desaprender”, de redesenho do ensino-aprendizagem. temos discutido o quão atrasados estamos em relação às tecnologias, que impõem novos modelos de produzir conhecimento. teu texto já já vai ser lido por meus alunos aqui da UFC (curso de Letras). vamos pensando!

  10. Achei o texto demagógico e sem embasamento científico. Só repete senso comum. Não que o senso comum não possa ser confirmado – às vezes, as coisas são mesmo exatamente o que parecem ser -, mas não vi nenhuma referência a estudos que o fundamentem. “Há tantas delas que ainda não perceberam que este mundo internético em que hoje vivemos é radicalmente diferente do mundo desconectado de algumas poucas décadas atrás e que nossa Educação agora pode e precisa ser muito melhor.”

    Será que existe mesmo alguma escola que não tenha percebido isso?! Perceber um problema é uma coisa, ter vontade de solucioná-lo é outra, e poder de fato solucioná-lo é ainda outra. Deixo aqui o link para um interessante estudo: http://jovensemrede.files.wordpress.com/2012/02/tatiane-marques-de-oliveira-martins-a-netnografia-como-metodologia-para-conhecer-o-trabalho-de-professores-da-cultura-digital-texto.pdf. Ele confirma o que vejo no meu dia-a-dia: as escolas e os professores esforçam-se sim para acompanhar as mudanças (mas admito que esses esforços têm dado algum, mas poucos resultados, há ainda muito o que crescer! mas empenho e vontade não faltam!), são os alunos que relutam à mudança!!! É claro que reclamam da chatice das aulas em que são reduzidos a papéis passivos, mas reclamam muito mais quando são convidados a papéis ativos. Na aula expositiva, tradicional e chata, pelo menos, eles podem entregar-se a seus devaneios, fazer temas de outras disciplinas ou navegar sorrateiramente nas redes sociais em seus smartphones. Nas aulas em que devem assumir posturas ativas, têm de mostrar serviço, têm de mostrar o resultado no final da aula. Daí não gostam! Há, como em tudo, exceções, é claro, Mas a maioria é assim!

    Não estou dizendo que o autor não tenha nenhuma razão. Ele tem! Mas sua análise está muito superficial. Tantos comentários elogiosos se devem basicamente ao fato de que ele escreve o que quase todo o mundo pensa, e quase todo o mundo gosta de saber que alguém mais partilha de seu mesmo pensamento. Isso gera identificação. Mas há de se refletir sobre isso! Se eu me identifico com um imbecil, isso não é propriamente motivo para eu comemorar, certo? Não estou dizendo que o autor é imbecil (acho que ele não é), mas apenas tentando ilustrar o quanto os elogios baseados em identificação não são motivos para se pensar que estamos no caminho certo. Às vezes, dependendo do tema e do ponto de vista, é bem o contrário: se todo o mundo vaiou, aí é que estamos certos!

    Ah, ia fazer outro comentário, mas alguém o fez antes de mim: quem tira 7 passa do mesmo jeito que quem tira 10. E daí? Eu sempre fui uma aluna nota 10, mas nunca me importei com os que passavam com 7, nem com os que passavam com recuperação. Que me importam os outros? Importa-me a mim mesma! Eu queria aprender e pronto! Isso de meritocracia é bahaviorismo, estímulo-resposta, adestramento! Eu nunca busquei recompensa no estudo senão o fascínio de entender por que existe o dia e a noite, e como os negros vieram parar aqui no Brasil e de por quê eles vivem na situação em que vivem. O 10 era uma consequência, a que menos me importava, aliás! Compreender o mundo era que me fascinava, e eu o fazia apoiando a cabeça numa das mãos, escutando as professoras falarem, sem nenhuma tecnologia a não ser essa rara habilidade de tocar os corações dos alunos. Elas me tocaram. Eu lhes agradeço eternamente.

    • Olá, Ana. Obrigado pelo comentário. Li com atenção o estudo que você compartilhou e posso estar errado, mas não me pareceu que ele confirme a opinião que você expressou. Pelo contrário, ele diz claramente que “é fato que ainda há poucos professores brasileiros que têm uma vida ativa na Web, participando de redes sociais, grupos de discussão e produzindo conteúdo em blogs, wikis ou outras plataformas” e “a entrada das mídias digitais na escola apresenta uma dicotomia. É uma questão de dupla resistência: dos que negam e rejeitam as inovações e dos que as incorporam em suas atividades e enfrentam as barreiras de colegas e direção.” Ou seja, ao menos na minha leitura, o artigo afirma que ainda são poucos os professores envolvidos nas mudanças e que eles enfrentam resistência nas escolas. Já quanto aos alunos o artigo afirma que “Nossos alunos ainda não estão preparados para enfrentar novos paradigmas escolares. São muitos anos presos e enraizados na estrutura tradicional e fechada de aprendizagem-avaliação-nota-aprovação/reprovação, independente da construção ou não do conhecimento.”, o que é inegável e é justamente a motivação do meu texto. A autora se refere à incorporação de conceitos equivocados de aprendizagem, que é consequência de anos de exposição à estrutura tradicional. E são exatamente esses conceitos que procurei apontar para minha filha em minha carta, na esperança de que, estando ciente deles, ela não os incorpore. Quanto ao fato de que você permaneceu dando o máximo de si, apesar de receber da escola a mensagem de que estar na média seria suficiente, fico muito feliz por você. Espero que minha filha, assim como você fez, também consiga evitar aprender esse conceito e siga sempre dando seu melhor em tudo.

    • Concordo, Renato,
      Além disso, a Ana afirma uma obviedade: “não vi nenhuma referência a estudos que o fundamentem”. Porém, é evidente e óbvio, pelo próprio estilo e objetivo do texto (uma carta a sua filha), que ele não pretende ser um artigo científico, recheado de citações e referenciais teóricos.
      O que não significa que as idéias expostas não possuam esse referencial e que seja “sem embasamento científico”, como afirma também equivocadamente a Ana.
      Creio que muito do embasamento científico das idéias que você expôs pode ser encontrado no seguinte estudo:
      http://www.galvaofilho.net/comunica.htm
      No estudo encontrado nesse link estão as percepções e conclusões de pesquisadores como Lévy, Papert, Valente, Mantoan, Galvão Filho, Pretto, Perrenoud, entre outros, que confirmam as idéias que você propôs no seu texto, Renato.
      Um abraço.

      • Mas peraí, Renato: “carta para a filha” foi só um modo de dizer, né não?! Se fosse apenas uma carta para a filha dele, ele teria mostrado para a filha dele!!! Se ele publicou aqui, é porque ele quis mostrar para outras pessoas com o intuito de discutir ideias, e eu acredito que não se discute ideias a sério com base apenas no senso comum.

  11. Oi Renato, foi com muita alegria que recebi o texto, encaminhado por um dos meus filhos- o mais novo.Sou pedagoga, tenho 05 filhos, 10 netos de 27 a 02 anos . como vc pode sentir , já vivi várias fases na e de educação.Sempre trabalhei na área de educação popular .Quando acabei de ler o seu texto me senti realizada e feliz pois tudo isto que vc colocou sentimos na pele e nem sempre encontramos saídas. A diferença de idades que convivo me faz mergulhar nestas dúvidas e tento dizer, fazer e orientar os meus filhos mas , claro que encontro barreiras pois as gerações já , posso dizer, que são múltiplas e cheias de descobertas e dúvidas. De qualquer maneira , parabéns pelo seu incentivo. Precisamos urgente fazer uma construção diária e tem que ser no dia a dia. Um grande abraço Heloisa

  12. Renato, é hora de tentarmos mudar essa escola que está aí. Claro que, como vc, eu também tento ensinar meu filho a ser crítico, leitor ávido, cinéfilo, viajante e aventureiro, a ponto de perceber que só a escola não basta e que há muito a aprender fora dela. Mas creia, meu filho incomoda na sala. Por diversas vezes (em diversas escolas e com diversas professoras _ e ele ainda tem 11 anos), ele foi convidado a parar de perguntar sobre coisas ou parar de falar sobre coisas que estavam sendo ‘ensinadas’. Por que? porque ainda era ‘cedo’ para falar daquilo ou perguntar sobre aquilo. E as escolas que meu filho estudou até hoje, foram escolhidas por conta de custo X benefício (cabiam em meu orçamento, mas eram sempre com propostas construtivistas ou montessorianas). Mas vi meu filho frustrado. Sem entender porque tinha que ‘brecar’ seus próprio entusiasmo diante do conhecimento. E em casa, sem limites, falávamos, pesquisávamos e ele tinha que guardar com ele, sem poder compartilhar em sala, para não ‘adiantar’. Que ‘escola’ é esta? e porque nós, pais, não revolucionamos? porque somos obrigados a aceitar isso? Eu fico me sentindo impotente. Será que sou só eu????

    • Olá, Alene. Sorte do seu filho que você se envolva tanto com a educação dele e ajude a compensar em casa as situações que você citou. Tenho certeza de que não é só você que sente isso, não. Acredito que a mudança é inevitável, mas dói quando percebemos que talvez ela não seja rápida o bastante para que nossos filhos consigam se beneficiar dela.

  13. Eu gostei muito do texto e vou fazer uma versão minha para mostrar para minha filha quando ela crescer. Eu li os comentários das pessoas aqui, muitos professores, que infelizmente ainda não entende o papel da tecnologia na nossa espécie (e não estou falando de computador e nem informática, o fogo e a escrita são tecnologias). Eu acho sua análise do papel que a tecnologia cognitiva tem de ser disruptiva e mudar tudo, esse é um campo de meus estudos, bem iniciais, em Antropologia Cognitiva.
    Eu só discordo de um ponto: a sua análise de que a escola já foi e hoje não é mais (não estou falando da Educação, e não da Escola).
    A Escola, como Instituição nos moldes que temos hoje, foi fundada, se não me falha a memória, na Prússia e foi pensada para ser uma reprodutora de trabalhadores para a crescente industrialização. Olhe a estrutura da sala de aula e vai ver uma linha de produção. Olha as matérias divididas e também vai ver isso. Então, ao meu ver, não existe forma dessa Escola mudar a Educação para esse mundo que está surgindo. Passamos por uma Revolução Cognitiva e precisamos de uma nova Escola, também revolucionária.
    Parabéns pelo texto.

  14. Gostei do texto e adorei ler alguns dos comentários (não consegui ler todos eles). Acho muito legal o debate que é levantado. Sou professora e me vejo presa à escola do passado. Me esforço pra tentar modernizar minhas aulas, mas concordo com a Ana quando ela diz que a família e o próprio aluno se acomoda e prefere a aula tradicional, muitos são resistentes mesmo às mudanças. Passei um ano fazendo um blog para compartilhar ideias e material das aulas com meus alunos e a grande maioria nem acessava, sem contar os comentários de ofensas, inadequados e pornográficos que recebi. É muito angustiando para nós professores, porque a mudança é muito lenta e gradual. Acredito que essa nova ERA, da tecnologia, é muito rápida, e nossos alunos (e filhos e nós mesmos) muitas vezes não conseguimos acompanhar, aproveitar!….Eles têm tecnologia, mas não sabem usar para construir e compartilhar conhecimento; não conseguem acessar o “HD”, com as informações e muito menos, transformar essas informações em conhecimento. Por isso, mesmo estando aberta a novas ideias, ainda penso que a escola é muito importante sim, que tudo que os professores tentam nos ensinar, mesmo que de modo tradicional, é importante para me preparar a viver no mundo, para formar uma base de conhecimento para que eu possa lá na frente aprender sozinho. Então, além de cumprir com minha obrigação em relação aos conteúdos que tento ensinar aos meus alunos, eu tento todos os dias, que eles aprendam a gostar de aprender, que olhem para a escola de uma maneira diferente, positiva!

    • Olá, Andréia. Muito obrigado pelo seu comentário. Concordo completamente contigo sobre a importância da escola e peço desculpas se dei a entender o contrário no texto. É justamente por considerá-la tão importante que quero que seus problemas sejam corrigidos. Sobre a reação dos alunos às tentativas de mudanças, acho que é preciso lembrar que eles passaram anos aprendendo as “lições” que citei no texto e não será de uma hora para a outra que irão desaprendê-las.

  15. RENATO! Estou emocionada cim seu texto, vou compartilhar no meu face. Só acho que a Escola dá oportunidade a participacão do aluno em sala de aula, a expor ideias e posicionamentos, o questao é que os assuntos não são interessantes para eles fazerem isto. Tenho um fikho de 10 anos que detesta ir a escola, tem tiques nervosos e vai super mal nas provas e até hoje nunca reprovou….. Mas realmente, nao estou preocupada com o ENEM, quero fer meu filho feliz:-):-):-):-)Tenho um filho de 3 anos com sindrome de down, que estimulo o tempo todo, mas não quero sufocá_lo , jamais alem de suas possibilidades. UM abraço. GLAUCE

  16. Renato Carvalho, primeiro gostaria de parabeniza-lo pelo excelente texto, compartilhei também no meu face. Muita gente critica, mas a maioria elogia. Tenho 26 anos e sempre fui um péssimo aluno, hoje, sou um cara que tem varias ideias e extremamente pró-ativo. A escola realmente não te ensina a ser BOM, ensina vc a ser mais um na sociedade.

    Nesse tempo de escola tmb frequentei um grupo de escoteiros em Salvador, acho que eles sim ensinam coisas que a escola deveria ensinar. O estudo é importante sim, mas a humildade e os valores são tão importantes ou mais. Prefiro ser ignorante e ter valores do que ser um estudioso arrogante.

    Parabéns!!!

  17. Olá… Queria informar que chorei com o seu texto e tomei a liberdade de imprimi-lo e guardar para minha filha!!! Fui vítima desse sistema essa semana… Tenho uma filha de 3 anos, graças a Deus muito esperta, e que já está quase lendo… Entrou na escola esse ano, e qual não foi a minha surpresa ao ver que mesmo na Educação Infantil, isso mesmo no maternal, as crianças já possuem boletim… Mais surpresa ainda fiquei ao ver que o boletim dela veio conceito D em tudo, procurei a professora e perguntei se minha filha estava tendo problemas, estava tendo dificuldades ou algo do tipo, quando recebi a seguinte resposta: “Não mãe, sua filha é super inteligente, está muito à frente da turma, dá gosto ensinar pra ela, mas coloquei conceito D por pro forme, para não destoar do resto da turma, que é muito atrasada em relação a ela.” Fiquei chocada, como assim?! Ao invés de incentivar as crianças a alcançarem o melhor, simplesmente atrasam os melhores para nivelar ao mediano… Fiquei, e ainda estou, REVOLTADA!!!!

  18. Olá Renato Carvalho,
    Concordo com teus apontamentos. Entretanto, se queremos mudar tal situação, devemos analisar no porquê de a escola brasileira ainda estar regrada de tais características consideradas nocivas ao desenvolvimento humano. Escolas com salas de aulas super-lotadas, com crianças que possuem os mais diversos problemas e com professores ganhando super mal, a situação é difícil.
    Acredito que se fosse fácil, a maioria de nossos professores já teriam mudado a situação faz tempo.
    Você escreve super bem. Mas se realmente deseja provocar mudanças na educação, sugiro que considere também os problemas que a envolve.
    Tente refletir e procurar respostas sobre o porquê de os governantes estarem pouco interessados na qualidade da educação.
    Conheço professores que realmente instigam a inteligência de seus alunos e que trazem novidades para a sala de aula (Novidades que muitas vezes vem de suas custas, ou seja, se eles querem trazer algo diferente, muitas vezes acabam comprando. O estado ou município não quer que eles comprem os materiais dos quais precisam. Mas também não fornecem). Então eles ministram as suas aulas diferentes da metodologia tradicional, e o resultado é um pouco melhor. Mas isso não é o suficiente…deveria ser bem melhor.
    Mas por que tanta dedicação e pouco resultado?
    Pense na seguinte situação:
    Imagine você lidando com cerca de trinta e cinco alunos, onde tem desde aquele que é super-protegido e aquele que é violentado em casa. E ainda por cima, a maioria desses pais acredita que é você que deve ensinar comportamentos de gentileza e bons modos. Ainda por cima, você possuí problemas de saúde que causam um grande desconforto, mas o teu plano de servidor não cobre o tratamento porque é caro, e o sus demora!!!
    Aí você elabora uma aula em que precisa de levar os alunos a um museu ou parque, mas só tem agendamento para o ônibus daqui a dois meses. Você quer levar eles para a sala de informática, mas tem só cinco computadores… A diretora já não te vê com bons olhos pelo fato de você estar cobrando recursos e começa a fazer perseguição pscológica. E você com problemas na família (professores são humanos), saúde enfraquecida, a conta do aluguel para pagar, da àgua, da luz, do mercado, da farmácia, etc. E a tua filha, a roupa, o material escolar, o remédio…
    Pense no que eu disse… e não diga a tua filha que a escola não é necessária, pois foi através dessa instituição que você aprendeu a escrever: Te amo. Teu pai.

    Abraços
    Quezia

    • Olá, Quezia. Muito obrigado pelo seu comentário. Eu tenho ciência das dificuldades que os professores enfrentam e do imenso compromisso que a grande maioria têm com seu trabalho. Continuo achando que há muito que se repensar nas escolas e muitos problemas a corrigir, mas tenho certeza que eles não decorrem de falta de comprometimento dos professores.

  19. Renato. Eu me surpreendi com seu texto, muito bem elaborado e inteligente. Eu estive na Escola da Ponte, em Portugal. Também visitei as escolas em Reggio Emilia, na Itália, assim como escolas aqui mesmo no Brasil, fosse o Projeto Âncora, em Cotia/SP ou a EMEF Amorim Lima, em São Paulo, capital. Sei que o que você anseia é possível sim. Lendo os livros do grande educador Lauro de Oliveira Lima, sempre muito citado pelo professor português, José Pacheco, vemos o quanto a “formatação” da escola que temos é obsoleta e produz gerações de pessoas “insuficientes” e “conformadas”. O que é certo, mais cedo ou mais tarde (e põe tarde nisso, se depender só da própria escola!), é que a educação terá de mudar. E já está mudando graças a algumas “formiguinhas. Ah, antes que eu me esqueça, nas experiências citadas por mim, a participação colaborativa e comprometida da comunidade e mesmo do poder público é fato. Mas nada caiu do céu, sem dúvida! Parabéns!

    • Obrigado, Ângelo. Com certeza, todos os exemplos que você citou são de escolas que conseguiram deixar de ser “escolas do passado”. Também não tenho dúvidas de que será inevitável que as demais escolas, aos poucos, sigam os caminhos abertos por essas iniciativas pioneiras. Vejo com enorme otimismo o futuro da educação. Só nos cabe o esforço para que esse futuro chegue o quanto antes.

  20. Muitas vezes somos tão condicionados a esse modelo educacional antigo que reproduzimos comportamentos e não nos damos conta de que ele não faz mais sentido. Nos preocupamos apenas com o que o sistema nos pede, com os papeis a preencher, com a nota do IDEB e esquecemos que os nossos alunos e também filhos precisam de mais, de algo novo, de motivação para ir além, para mostrar o que sabem e o que podem fazer. Belíssimo texto, bom seria que aqueles que ficam sentados confortavelmente em suas cadeiras ditando fórmulas “mágicas”(que não mudam nada) para resolver os problemas de nossa educação, pudessem lê-lo e compreender que não chegaremos a nenhum lugar se continuarmos no passado. Parabéns!!

  21. Bonito texto mas com contradicoes quando voce diz sobre as notas “7 e 10” e depois nos dois itens posteriores, sobre a escola “nao ser suficiente” e “as provas” como forma de medir sua capacidade.
    Sempre acreditei que voce nao precisa tirar nota 10 pra provar que e bom, mesmo porque muitas coisas podem acontecer para que este 10 exista, como decorar, colar, etc…e segundo seu texto, o que concordo plenamente, se a escola nao e suficiente e as provas nao medem sua capacidade, o porque de tirar 10? porque um 7 nao e suficientemente bom? Voce entra em contradicoes ai.

    Outro detalhe: em seu proximo texto, poderia enumerar os itens para facilitar os comentarios e analises por favor?

    • Olá, Jurema. Obrigado pelo comentário. Eu respondi essa mesma questão em um comentário anterior. Portanto, me perdoe por me limitar a copiar a resposta aqui: Olá, Luiz Cláudio. Você deve ter reparado que dois parágrafos após o trecho a que você se refere eu aconselhei a minha filha a não acreditar que provas são capazes de medir a inteligência dela, e logo em seguida o texto fala de colaboração e compartilhamento de conhecimento. Felizmente, ela foi capaz de compreender bem esse aparente paradoxo. Aquele primeiro trecho não é uma defesa da meritocracia e muito menos da competição entre alunos. O que ele fala é que, concordemos ou não, as notas serão o método que a escola usará para avaliar quem ela (a escola) considera excelente e quem ela considera mediano. O problema que eu quis abordar nesse ponto específico é que a mensagem que isso passa aos alunos é que é desnecessário dar o máximo de si, dominar todo o conteúdo e tirar a nota máxima (ou seja, ser excelente no ponto de vista da escola), pois as consequências para o aluno que fez apenas o mínimo necessário para obter a média são as mesmas. Eu acredito que dar o melhor de si, em qualquer situação, é importantíssimo e não tem necessariamente nada a ver com competição.

  22. Sempre sofri preconceito na escola, pois desde pequeno fui um excelente esportista, e também despertei para as artes logo cedo, (mesmo estudando em uma escola de tradição nos esportes, estudei no sesi) passava minha vida desenhando e praticando esportes, era considerado o não faz nada da sala, davam importância aos gênios da matemática e ciências da sala, sofri bastante com isso, a carreira dos esportes deixei de lado, mas graças a Deus, mesmo com preconceito sofrido até da família, fui fazer artes plásticas. E hoje sou super feliz na minha carreira, extremamente feliz. Sei que se tivesse nascido em país de tradição na educação, teria me dado muito bem nas duas carreiras. Esse texto reflete muito bem a nossa educação, parabéns a quem escreveu esse texto, tem meu aval!!!!!!!!!!!!!

  23. Teu texto produz uma boa reflexão, Renato! Ele nos instiga a pensar e contribuir Por isso quero acrescentar algo. No que se refere a constituir turmas com pessoas com graus de conhecimentos diferentes e que supõe que, com isso, tua filha, por exemplo, possa receber dos que sabem mais e ela ensinar os que sabem menos, me parece um pouco linear. Penso que os que não sabem podem produzir conhecimento com suas perguntas. Basta que sejam encorajados a perguntar. Assim, no grupo de alunos, pode ser produzido um conhecimento com circularidades constituída pelos que sabem e pelos que não sabem. Num círculo virtuoso. O perguntante enseja a reflexão dos respondentes, não te parece?!

    • Olá, Nedio. Obrigado pelo comentário. Concordo totalmente com a sua opinião. Talvez eu tenha usado uma linguagem muito simplista nesse trecho do texto, mas de forma alguma quis sugerir que o conhecimento pode ser “transferido” de quem sabe (seja ele um aluno mais velho ou um professor) para quem não sabe. Acredito em algo que pode parecer um paradoxo: o ato de ensinar é possível, mas não é possível ser ensinado. Ao ensinar (ou seja, ao fazer um esforço deliberado para expor conhecimentos e criar as condições para que o outro aprenda), um aluno mais avançado precisa refletir sobre o que aprendeu e reestruturar suas ideias, e assim irá aprender, aprofundando e consolidando o que sabia. Mas esse conhecimento não será transferido, o aluno menos avançado não será “ensinado”, ele simplesmente estará em contato com o objeto que deseja conhecer e a partir daí aprenderá (ou seja, construirá internamente as estruturas e conceitos relacionados a esse objeto) e por sua vez estará agora em posição de aprofundar esse aprendizado se ensinar para outro colega o que aprendeu. É o círculo virtuoso a que você se referiu. Há alguns dias publicamos um artigo muito interessante sobre esse processo. Se você tiver interesse, leia em http://rescola.com.br/o-grande-esquema-de-piramide-da-aprendizagem-entre-pares/

  24. Renato,
    já li o seu post várias vezes e só agora tive tempo pra comentar. Seus pontos são tão simples e verdadeiros. Eu sou aluna de um colégio tradicional e percebo claramente todas as suas insatisfações (e elas também são minhas). Uma pena que muitos diretores e pedagogos não tenham percebido isso até agora.
    De qualquer forma, fico extremamente feliz em saber que existem pessoas que compartilham do meu pensamento. Também esperançosa por pensar que estamos perto de uma transformação.
    Obrigada por divulgar esse tipo de pensamento.

  25. Olá Renato! Parabéns pelo texto, pois nos faz refletir… como mãe eu quero sempre o melhor p a minha filha q ainda nem entrou na escola e busco estimulá-la das mais variadas maneiras e ela responde muito bem a esses estímulos… Como professora, já há alguns anos, tento estimular meus alunos da melhor maneira possível, mas como algumas pessoas já comentaram, nós professores muitas vezes ficamos de mãos atadas, temos um limite de ação. Trabalho atualmente, numa escola municipal de perifería, com recursos precários, onde os professores que querem “algo a mais” nas suas aulas, tem que tirar dinheiro do bolso, de um salário já bem defasado, uma sala de informática com a metade de seus computadores estragados… mas o que mais me entristece e muitas vezes desestimula é a falta dessa vontade/anseio em aprender por parte dos alunos. A grande maioria deles tem pais que ao contrário da sua e minha vontade, não querem nem saber o que o filho faz ou deixa de fazer/aprender na escola. Só quer ficar “livre” do filho em casa e despeja na escola, inclusive para ganhar o seu sagrado “bolsa família”. Conheço muitos professores q assim como eu, se esforçam para deixar suas aulas atrativas, mas chega um ponto que o esgotamento é inevitável… Penso que, assim como já foi comentado, antes de termos uma escola “desescolarizada”, um trabalho com a maioria das famílias tem que ser realizado, pois é lá que os estímulos começam, pelo menos ao meu ver. Desculpa ai o desabafo! Torçamos pela educação em todos os seus sentidos!

    • Obrigado pelo comentário, Quenia. Achei muito interessante seu depoimento, mas sigo acreditando que não há quem não tenha vontade de aprender. O que há é que cada um tem vontade de aprender o que lhe interessa, o que lhe instiga, e isso nem sempre sem encaixa com o currículo escolar. Imagine um assunto pelo qual você não tem interesse algum. Por mais que alguém se esforçasse por lhe dar uma aula interessante sobre isso, dificilmente conseguiria lhe manter motivada por muito tempo.

      Ontem publicamos aqui no Rescola o primeiro de uma série de relatos de um diretor de uma escola que está implementando técnicas de Passion-based Learning (Aprendizagem Baseada em Paixão). Ele usa algo pelo que os alunos são naturalmente apaixonados (no caso, um videogame) como uma porta para o aprendizado. Dê uma olhada em http://rescola.com.br/aprendizagem-baseada-em-paixao-dia-1-testando-os-atrativos-do-minecraft e nos relatos subsequentes que iremos publicar nos próximos dias. Talvez você tenha inspirações interessantes.

  26. Obrigada, Renato!
    Tenho tambem textos sobre esse tema e estudo bastante sobre unschooling.
    Estamos em Portugal agora, em um projeto em Familia. Meu filho tem um ano e viajaremos com ele por um tempo. Talvez possamos trabalhar juntos. Nos interessamos em ir visitar essas novas escolas aqui da Europa. Ficaremos em Portugal até junho e depois devemos ir à Espanha. Somos do RIo! Me diz o que acha? Até mais!

  27. Lindo texto, parabéns! Tenho procurado uma escola mais livre para minha filha. Ela ainda tem 1 ano, mas já pensando no assunto, e desesperada pois nao consigo concordar com esse método de ensino na maioria das escolas. Decora, decora, decora, pra passar no vestibular, fica o dia inteiro trancado em sala de aula, nao usa o conhecimento adquirido, os professores mal notam as características individuais dos alunos, so de destacam os melhores e os piores… ainda bem que existe uma única opcao, que para poucos e acessível, mas fica bem próximo do que espero de uma escola para minha filha.

    • Olá, Cláudia. É verdade. E algo que me preocupa bastante é que os países mais desenvolvidos já perceberam isso e estão reformulando seus modelos educacionais. Se os países em desenvolvimento, como o Brasil, ficarem para trás nessa reforma, o abismo entre países ricos e países pobres tende a aumentar ainda mais.

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